"A vida como ela é..." se tornou justamente útil pela sua tristeza, imensa e vital. Uma pessoa que só tem uma visão unilateral e rósea, que ignora a face negra da vida, é uma pessoa mutilada. Por outro lado, nego a qualquer um o direito de virar as costas à dor alheia. Precisamos ter, continuamente, a consciência, o sentimento dessa dor. Eu sei que nenhum de nós gosta de se aborrecer. Mais importante, porém, que o nosso conforto, o nosso egoísmo, a nossa frivolidade - é o dever de participar das desgraças dos outros. E houve, ainda, um episódio que marcou ainda mais a minha coluna. Dias antes de ser iniciada a publicação de "A vida como ela é..." estive, acidentalmente, numa Policlínica. Lá, numa sala apinhada, esperando a vez, estava um menino de 3 ou 4 anos, no colo materno. E, súbito, a criança começa a chorar. Mas seu pranto era diferente: ele chorava pus! Viva eu trezentos anos e terei cravada em mim essa lágrima espantosa de menino. Durante meses eu tive vergonha de mim, daminha pouquíssima alegria, da minha problemática felicidade e, mais do que isso, vergonha de minhas lágrimas normais e apresentáveis. Nelson Rodrigues (13/6/1952).
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