O problema da compreensão não se restringe ao campo da epistemologia. Atinge, igualmente, a organização social humana nas experiências e relações intersubjetivas. A mesmidade e a ipseidade, representadas paradigmaticamente pela memória e pela promessa, constituem o si-mesmo de duas formas: por um lado, no reconhecimento das imagens do passado; por outro, na não-traição da promessa feita, que é a manutenção de si . Pensar a alteridade como constitutiva da própria identidade é trabalhar pela noção de um si mesmo responsável por aquilo que faz e diz. É essa manutenção de si que faz com que o outro possa contar com a palavra proferida por seu interlocutor. Contrariamente à transparência da relação pressuposta pelo Cogito cartesiano, o si-mesmo proposto neste estudo se descobre continuamente através do opaco e oblíquo movimento hermenêutico, movimento realizado ao longo de uma vida inteira.