Neste livro abordo textos de literatura infantil de Clarice Lispector, tendo em vista que esta autora, que se naturalizou brasileira, promove, assim como nos seus textos direcionados ao público adulto, a inquietação diante dos mistérios de se sentir tão terra e tão humana, como se travasse com o filósofo alemão Nietzsche um acordo de pensamento. Neste sentido, as cinco produções infantis de Clarice Lispector, quais sejam "O mistério do coelho pensante" (1967), "A mulher que matou os peixes" (1969), "A vida íntima de Laura" (1974), "Quase de verdade" (1970) e "Como nasceram as estrelas" (1984), estes últimos dois textos póstumos, trazem um "questionamento filosófico" sobre as inquietações das crianças e das contradições dos adultos diante dos fatos corriqueiros do mundo. Sua produção infantil se diferencia pelo como a autora se põe e põe a criança diante da linguagem, da vida. Seus textos não respondem; perguntam, sem contudo, querer ou pedir uma resposta que traga a verdade, mas sim uma possibilidade de vontade de verdade. Por isso, na solitude de uma árvore seca está a potência da vida, assim como na proposta da "escritura" clariciana está a inquietude do ser.