É bem verdade que as outrora colônias portuguesas em África sofreram, ao longo de anos, os dissabores gerados por tal condição histórica, subtraindo-lhes elementos culturais, sociais, políticos e morais. Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe, são esses lugares onde o arranhar daqueles tempos não lhes tirou a altivez, a pujança e a coragem de se manifestarem pelos sons e arremedos tão sutis, tão sublimes que só a literatura pode proporcionar. Angola foi, nesse trajeto, a escolha para nossas investigações mais acerca, e a poesia foi o gênero ideal para que se pudesse, por meio dos cânones, dos estudiosos e das literaturas africanas de língua portuguesa, estabelecer um processo de análise literária que nos levasse a um possível - e doloroso - diálogo entre os campos umedecidos pelo sangue dos que lutaram pela liberdade de seus países e os textos - em prosa e em verso - que tanto reclamaram buscar, de forma instigante, a condição de pátria livre. Há muitoque se revelar sobre os escritos de África, urge ampliarmos seus autores, suas obras, suas experiências. Por aqui, pois,vai o poeta angolano António Cardoso, preso anos a fio,ora compilado neste trabalho.