Este trabalho se propõe, por meio de uma abordagem crítico-reflexiva e hipotético-dedutiva, investigar a existência de marcas na obra de Auta de Souza que denunciem a condição de poetisa negra, verificando os possíveis aspectos afro-brasileiros revelados na sua poesia em uma época na qual o ato da mulher escrever se configurava como uma transgressão, principalmente ao se considerar o contexto em que viveu a autora em estudo. A proposta aqui é transpor a candura do universo feminino que envolve a obra em estudo e buscar sentido para a diversidade de sons, símbolos e imagens que sua poesia sugere, ao contrário de muitos autores que assumem uma postura contemplativa diante da obra de Auta de Souza, ou atribuem a ela uma poesia rudimentar e simplória. Analisar a construção do pertencimento étnico-racial na sociedade brasileira e sua articulação com as memórias negras e o patrimônio cultural afrobrasileiro, a partir da perspectiva teórica dos Estudos Culturais em Educação e dos Estudos Afrobrasileiros, exige que se examine a centralidade de alguns discursos, tais como: o discurso da democracia racial, do branqueamento e da diáspora negra e suas múltiplas implicações.