O poeta Mário Cesariny (1923-2006), como representante e animador do surrealismo em Portugal no final dos anos 40 e início dos 50, foi um dos pioneiros da eclosão no país, em língua portuguesa, da neovanguarda literária, conjunto de tendências vanguardistas, surgidas após a segunda grande guerra, que retomavam o experimentalismo com a linguagem e o radicalismo estético da primeira onda da vanguarda portuguesa nos anos 10, impulsionada pelo grande poeta Fernando Pessoa e outros, a chamada "geração de Orfeu". O surrealismo português foi precursor de uma gama de autores e movimentos poéticos surgidos posteriormente e que afirmaram a atividade vigorosa de uma poesia de vanguarda múltipla sob o regime fascista de Salazar. Neste livro, a poesia de Cesariny é estudada sob o prisma da construção retórica de uma imagem da subjetividade do poeta, motivo central na reflexão sobre o lugar da poesia lírica no mundo contemporâneo e tema fundamental para se compreender melhor as manifestações poéticas contemporâneas ocorridas à margem dos países centrais do capitalismo, como é o caso da neovanguarda portuguesa.