Em 1961, surgem, no panorama literário português, as plaquettes de Poesia 61 a apontarem para uma revolução da linguagem poética. Alguns poetas, num ambiente de falta de liberdade devido ao regime vigente, expressam a sua angústia e revolta, face à realidade circundante. É a especificidade da escrita feminina de Luiza Neto Jorge que este trabalho vai desenvolver, assente na desconstrução das normas linguísticas e na elaboração de uma nova linguagem. Esta poeta é a que mais profundamente ancora a sua obra nos princípios surrealistas. A análise desta escrita pretende dar conta do seu pendor surrealista, traduzido em grande parte da sua obra poética. Lançando-se para além do Surrealismo, a escrita de Luiza Neto Jorge revela uma grande elaboração linguística. A inovação reside, sobretudo, na grande multiplicidade de vozes do sujeito poético atuantes nas permanentes transfigurações e metamorfoses que movimentam a poesia. A transformação poética do feminino vai desde a mulher-animal, àmulher-poema, à mulher-pedra, à mulher-mulher ou à mulher-matadora. Este estudo interessa a todos os estudiosos que procuram entender a poesia como insurreição, erotismo e arte de criação.