A viralidade, conceito hodierno e proteiforme comum a várias áreas do conhecimento, constitui um bom pretexto para a leitura transdisciplinar e para a análise comparatista da obra de José Saramago e de Eugène Ionesco. Esta nova 'ecologia' viral ou 'viral turn' - que amplifica o mecanismo de autorreplicação, para além do plano biológico, ao envolver a noosfera, a economia, a psicologia e a comunicação - configura um horizonte de sedução ficcional patente em várias obras de José Saramago e de Eugène Ionesco. Assim sendo, a viroecologia (passe o neologismo) torna manifesto um complexo temático obsessor na obra dos Autores supracitados, incidindo sobre a replicação parasitária a nível somático (alterações dramáticas do corpo), a nível memético (a replicação noosférica), a nível metafísico (a morte como fenómeno contagioso pela ausência) e a nível digital (a replicação de imagens que aniquilam a corpórea consistência fenomenológica).