Filmes que não passavam de propaganda e lavagem cerebral? Diretores e artistas submissos a um líder assentado no Kremlin, capaz de controlar a tudo e a todos nas coisas mais ínfimas? Ou então uns poucos dissidentes abertos só controlados com as mais funestas coações? Nada mais além de Eisenstein, Vertov, Pudovkin e Tarkovsky? Um cinema tão fechado em si mesmo quanto os arquivos do Kremlin? Incapaz de ir além de histórias aduladoras da Revolução, da Guerra Civil e da Segunda Guerra Mundial? Durante 74 anos a União Soviética conheceu experiências cinematográficas e relacionamentos com o poder político e demandas populares muito mais variadas do que a historiografia tradicional costuma observar. Sob o rótulo de totalitarismo, todo um cenário complexo de resistência e negociação, de liberdade artística, engajamento e carreirismo, de experimentalismo, conservadorismo e influência externa (estética, organizacional e industrial), foi ocultado. O cinema soviético reescreveu periodicamente a história do país e de seus povos ao sabor dessas tensões políticas, sociais, culturais e artísticas.