Há muitas opiniões pessimistas sobre o livro do Eclesiastes. "Só uma singular vaidade ou uma rara inconsciência pode levar alguém a escrever sobre o Eclesiastes", afirma Jacques Ellul na introdução de seu estudo. "É um livro estranho", diz Haroldo de Campos: "parece um fragmento insurrecto, imbricado anacronicamente no 'cânon bíblico'". De fato, o livro de Coélet tem sido pouco entendido na história do estudo bíblico. Não é citado no Novo Testamento e somente é lido uma vez no anuário litúrgico católico. Porém, nos últimos anos esta imagem está mudando. Novas leituras vão resgatando sua importância. Lido a partir do contexto latino-americano, Coélet é compreendido. De "velho pessimista" passa a denunciante de injustiças, incitante à vida e utópico. Passa a profeta dos tempos modernos. Este despertar é resultante da sintonia que existe entre a realidade que vivemos, em particular na América Latina, e o contexto em que a obra de Coélet nasceu. Consideradas a distância e a enorme diferença que separa os dois mundos, acreditamos que as reflexões de Coélet podem trazer luzes que possibilitem avistar o horizonte da longa travessia e manter acesa a esperança, a utopia e a paixão.
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