O projeto literário de António Lobo Antunes engloba, entre as muitas peculiaridades de sua técnica romanesca, a produção de sentidos ficcionais que questionam a linearidade temporal, o significado do "eu" e os múltiplos planos memorialísticos, incluído suas patologias e limitações. O estilhaçar das alteridades dos sujeitos ficcionais se expressa em uma textualidade ambígua, consoante às mais recentes visões formuladas sobre a identidade humana, a qual se revela fragmentada e em contínuas reformulações. O propósito do estudo é analisar, nos romances Eu hei-de amar uma pedra e Ontem não te vi em Babilónia, a forma como a organização do tempo, as concepções de sujeito, o trabalho de representação da memória e as estratégias de esquecimento estão articulados nesses textos. Os romances, objetos de nosso estudo, são colocados em um plano plural e ambivalente, pois veiculam um discurso que revela a degradação e as ruínas morais das personagens, a flagelação do indivíduo, em suas íntimaspeculiaridades, frente às angústias da existência.