No que diz respeito ao processo criativo respectivamente de Fernando Pessoa e de Woody Allen, um olhar comparatista panorâmico pode conduzir à ideia de que o primeiro fragmenta-se a si próprio em diferentes olhares e vozes, das quais aqui nos interessa, especialmente, o semi-heterônimo Bernardo Soares; o segundo estilhaça seu olhar em vários filmes. Tanto na filmografia de Allen, como no "Livro do desassossego", não se configura uma demarcação limitada e limitadora nem de tempo nem de espaço. Há uma escritura-processo que se caracteriza pelo deslocamento, pelo desdobramento e pelo consequente estilhaçamento que multiplica. Essa mobilidade é justamente o que possibilita a disseminação - que se concretiza, especialmente, na fragmentação emergente da prosa poética e do texto fílmico, na pulverização da voz e no esfacelamento do sujeito enunciador.