É sabido que José Saramago foi reconhecido ainda em vida como um dos principais nomes da literatura portuguesa e mundial. Em sua obra, o autor trata com rara lucidez acerca de várias e importantes demandas sociais de nosso tempo. Guiado pela narrativa saramaguiana em "A caverna" e ancorado na Sociologia da literatura, Eric Arantes Corrêa efetua uma análise teórica da obra, evidenciando uma série de desdobramentos relativos ao mundo do trabalho. Compreendendo o trabalho como processo formativo e atividade humana vital, procura evidenciar, por meio da dramática resistência de um artesão produtor de louças de barro, a nulificação do trabalho artesanal em face da produção industrial em larga escala, confirmando, além da tendência histórica à substituição do trabalho humano por trabalho mecânico, a precarização e a intensificação do controle do trabalho com a ascensão das grandes empresas. Aponta ainda, evocando a metáfora da caverna de Platão presente na obra de Saramago, a relação entre imposição do consumo pelas grandes corporações e a fetichização da vida em seus múltiplos aspectos.