Quando encontrei Odilon Castro pela primeira vez, ele estava de posse de anotações que denominava "diário da fábrica". Demorei algum tempo para saber a história completa: Odilon havia trabalhado, quando mais jovem, como operário na fábrica Fundição Cofap (que depois se transformaria em Fundição Tupy). Depois de nossa conversa, logo Odilon voltaria à fábrica, desta vez para fazer uma etnografia. (...) Há uma dimensão incontornável em Fábrica de corpos: a lida de Odilon consigo mesmo - em 2011, com seu diário de campo, fazendo etnografia, pensando e sendo afetado pelo jovem operário que era entre 1997 a 2000, com o "diário de fábrica" em mãos. Nesse jogo de espelhos, algo se movimenta, alui: os conceitos manipulados, a forma de abordá-los, a relação com os interlocutores, o próprio autor, e por aí vai. Cada leitor encontrará um devir. De qualquer forma, no fim da empreitada, um respeito profundo pelos seus interlocutores e por sua própria história. E uma busca que, no afã de dizer algumas coisas, acaba por dizer muito mais. Pedro Paulo Gomes Pereira (UNIFESP)