Algumas décadas nos separam do ano da morte de Hannah Arendt. Todavia, seu pensamento político e filosófico conserva enorme originalidade e relevância. Sua obra apresenta um caráter desconcertante, fato que nos impede de estabelecer em relação à mesma os rótulos comuns que povoam o debate teórico-político na atualidade. Diferentemente do pensamento filosófico e político tradicional e também diverso do liberalismo, Arendt trata da liberdade como fundação, como edificação do novo na coletividade. Para Hannah Arendt, liberdade é iniciar (no espaço público). É nessa esfera que temos frequentemente novos começos e iniciativas condicionados pelas ações humanas. Destarte, Arendt demonstra que, sendo cada novo início um milagre, a realização de milagres é a maior potencialidade do espaço da política. A ação (cada novo início) é a seleta expressão da própria liberdade (humana). Adverte-nos a autora: se a esfera política, no mundo contemporâneo, sofre por uma carência de sentido, é justamente nessa esfera que podemos contar com milagres.