O leitor descobrirá que a obra de Guimarães Rosa, desde Sagarana, é um amálgama de camadas em que a matéria social do sertão histórico se liga a um universo mítico, através do qual as linhas do imaginário primitivo e arcaico (os causos,as crenças, os provérbios e o fabulário) inspiram um sentido especulativo da existência que norteia a jornada heroica das personagens. As sagas, enraizadas nas vivencias populares, se fazem presentes tanto no momento da concretude histórica dos conflitos quanto na intervenção do mito, que conspira para a recolocação do mundo das presenças culturais subalternizadas ali representadas. O presente estudo revela que a ficção rosiana potencializa as referências históricas da cultura sertaneja exatamente por efetuar fusões ambíguas: arcaico/moderno, real/imaginativo, mito/história, sertão/mundo, de forma a impedir a significação unívoca dos enunciados. O aspecto fundamental dessas fusões, principalmente no primeiro livro do autor, aparece quase sempre em proveito dos valores minoritários ou marginalizados.