O projeto estético da Geração de Orpheu tende por vezes a obter mais relevo na produção acadêmica do que o seu projeto político. Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro pertencem ambos a um tempo histórico cioso de inscrever-se na contramão de uma certa tradição oitocentista que pusera a sua arte a serviço do nacional. Com efeito, se as vanguardas negam a tradição no seu anseio de inscrever o novo, é preciso não esquecer que "o velho" lá permanece, ainda que em ecos, em cacos, em metamorfoses. Lições do Esfinge Gorda aposta portanto na ideia de um projeto político proposto pelos de Orpheu; projeto que não nega exatamente os imperativos educacionais da geração anterior mas os denega, os problematiza, os reconfigura, inscrevendo-se como uma espécie de pedagogia às avessas. Mário de Sá-Carneiro, ao trazer à baila uma série de temas tabu tais como o suicídio, o homoerotismo e a femme fatale, contrubuíra, a seu modo, para a renovação das consciências num período de grandes revoluções artísticas como o início do século XX.