A presente pesquisa se aproxima do texto de Lc 6,20-26, das bem-aventuranças e dos ais, vendo nessa passagem um exercício de recuperação, análise e recriação de palavras de Jesus. Aí está uma das particularidades deste escrito dentro do Novo Testamento, que o coloca no seio de uma vertente fundamental dos inícios do cristianismo, isto é, a tradição que se vincula a Jesus pela conservação e transmissão de seus ensinamentos. O autor desta pesquisa propõe o estudo deste texto percorrendo três aspectos. O primeiro é o estudo do texto em si, como uma unidade comunicativa. O segundo consiste em verificar a literatura que influenciou o autor lucano na construção deste texto, especialmente a fonte Q, e a comparação desta com termos das bem-aventuranças atribuídas aos indigentes presentes no evangelho segundo Tomé e na carta de Tiago. No terceiro a proposta do autor é analisar a importância do redator do texto lucano, a sua interferência e o uso das bem-aventuranças e dos ais para o seio de sua comunidade. Considera que uma das realizações das bem-aventuranças é a aproximação da mesa como símbolo da instauração do Reino de Deus, isto é, a partilha dos bens dos ricos com os mendigos.