A teoria da literatura do século XX conheceu uma série de apelos genuínos ao bom senso. Entre suas linhas condutoras, destacou-se um impulso de retorno ao texto literário como a realidade material daquilo que chamamos literatura e o consequente descarte da biografia e psicologia autorais ou da questão temática como critérios de avaliação primeiros. Teóricos advindos das mais variadas tradições apontaram para a linguagem como realidade significativa e não mais como simples meio de expressão de ideias anteriores ao discurso literário em si. Entretanto, a consciência dessa realidade material e, portanto, da importância da ciência linguística na análise, levou muitas vezes a uma desconfiança em relação ao poder de representação da realidade por meio da literatura. Em casos extremos, o papel da representação foi completamente negado, sobrando, ao teórico, apenas a realidade linguística e suas leis convencionais. A obra de José Guilherme Merquior se insere nesse campo de discussão, pela recuperação da ideia de mímese aristotélica. No entanto, a defesa da mímese é, na obra de Merquior, um ataque aberto a certas tendências teóricas, muito especialmente ao Pós-Estruturalismo.