A imagem da liberdade divina é forjada a partir da imagem da liberdade humana e a sua origem encontra-se na imoderação dos apetites humanos, como mostra Espinosa no prefácio do TTP e no apêndice do primeiro livro da Ética. O imaginário montado com as concatenações do corpo humano não existe senão qual estátua de adoração no interior do ânimo supersticioso. O vulgo crê refletir em seu discurso imaginário a estrutura ou ordem metafísica da realidade e, no entanto, como fosse um espelho invertido, não reflete senão o interior de seu próprio ânimo, isto é, a ordem de concatenação das afecções de seu corpo. O discurso demonstrativo de Espinosa, como fosse lente para os olhos da mente, na medida em que se desenvolvem as demonstrações da Ética, desenvolve o conhecimento imanente da ordem necessária da natureza e, simultaneamente, destrói gradualmente os preconceitos vulgares que poderiam impedir o intelecto finito de pensar segundo a lógica do intelecto infinito.