No conto "A Igreja do Diabo", o próprio Deus diz que a contradição dos seres humanos é eterna, para consolar o Diabo das decepções que os humanos lhe tinham causado. O Diabo exerce considerável protagonismo nos escritos de Machado de Assis, autor mundialmente celebrado pela acuidade literária com que sonda as regiões impenetráveis da vida humana, nas quais ele encontra o Diabo ou seus emissários. Qual é, então, o papel que o Diabo exerce nas obras do autor? É isso que este livro pretende analisar, a partir de excertos diversos, escritos em gêneros diferentes, representativos da coerência com que a obra machadiana retrata as contradições humanas, inspiradas ora em Deus, ora no Diabo, que sempre andam juntos. O Diabo sempre nos incomoda e dele temos muito medo, associando-o ao Mal. Além disso, tendemos a enxergá-lo no Outro, no diferente diante do qual nos sentimos ameaçados e que, por isso mesmo, deve ser eliminado. Machado resolve esses dilemas ao rejeitar o figurino tradicional com que o pintamos. Fica a suspeita de que o Mal-Diabo não está no Outro somente, mas também dentro de cada um de nós, o que explicaria as contradições eternas a que todos os seres humanos estão expostos.
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