Estava limitado em termos de trabalho, de política e de geografia; as suas costas estavam laceradas pelas balas que lhe perfuraram a pele nessa manifestação. E a sua liberdade era irreconhecível. Atravessar a fronteira abria-lhe um caminho de horizontes infinitos onde apenas vislumbrava o risco e a incerteza. A sua única segurança era duvidar de tudo. Abraão é o migrante que se tornou filósofo porque compreendeu que só se sabe o que é a filosofia quando se começa a filosofar. Assim, a sua forma de fazer filosofia será analisar as suas experiências de vida a partir do pensamento dos filósofos, de Sócrates, Tomás de Aquino, Nietzsche a Blondel. Para além da Academia, ele precisava de ir para as montanhas e para o deserto existencial para experimentar a provação da solidão. Além de uma vontade de poder guiada por uma vontade de sentido, que o levou à decisão de se abrir ao transcendente. A filosofia fê-lo refletir sobre a sua experiência migratória e reler a sua vida como uma viagem através do seu próprio pensamento. E é Rodrigo, amigo de Abraão, que nos conta esta história.