O problema da influência da sorte na ação humana sempre foi um tema preponderante na filosofia e na arte. A tensão entre o controle das nossas vidas e a possibilidade de sermos afetados por circunstâncias alheias ao nosso domínio, bem como a possibilidade de levarmos uma vida razoavelmente imune a tais circunstâncias, já era marcante na filosofia grega, sendo até hoje objeto de reflexão. Se é inegável que a sorte tem um papel importante, e influencia tanto o que acontece conosco como o nosso caráter e a forma como respondemos ao mundo, há uma área, no entanto, que julgamos alheia à ela: a moral. Uma das nossas intuições morais mais básicas é que não podemos ser censurados por aquilo que foge ao nosso controle. Cremos que o foco da avaliação moral deve se centrar única e exclusivamente naquela ação em que éramos senhores da situação e das circunstâncias. Essa intuição tão cara a nós, contudo, choca-se com um fato incontornável da nossa experiência moral: nós realmente avaliamos moralmente as pessoas por ações não só voluntárias, mas também por ações que, mesmo involuntárias, decorreram delas. A tensão entre aquela intuição e esse fato é o ponto de partida do problema da sorte moral.