Esta pesquisa estabelece as relações entre o romance Portagem, do escritor moçambicano Orlando Mendes, e Moçambique, destacando a jornada clandestina de seu herói protagonista, o mulato João Xilim. A partir deste enfoque, este estudo salienta a análise dos elementos estéticos e históricos concatenados à inaptidão de um mestiço, numa sociedade cercada pelo domínio português durante a era colonial. Através de uma narrativa alegórica, em que nação e narração envolvem-se, Orlando Mendes constrói um romance que propicia a (re)leitura de Moçambique durante os anos de 1950. Assim, observaremos a integração entre texto e contexto aliados à construção de um conjunto orgânico literário moçambicano, ao colonialismo, à memória, à ancestralidade, à miscigenação cultural, à (re)configuração da língua portuguesa e às interligações com os elementos da tradição literária. Deste modo, o mulato, através da visibilidade proporcionada pelo romance, torna-se símbolo-chave da busca de um novo tempo, pois por meio de tantas peripécias, o negro de meia tinta reconhece a derrota de seu próprio fado ao render-se diante de uma jornada agônica, contudo, ainda esperançosa.