A poesia tem uma liturgia própria e uma crença pessoal independente de sua via de tráfego. André Ferraz, o homem, é católico, mas o poeta é o místico selvagem, recusando-se a docilidade da experiência religiosa domesticada. É possível ver em Canto para dormir a contradição de ambos. A influência oriental é explícita. Pode ser comparada à experiência budista exemplificada nos koans. A trajetória da poesia de André Ferraz é marcada pela insubordinação do poeta, compreendida por ele como inevitável, porém a sedução não lhe é mais irresistível, pois o homem envelhecido - terço nas mãos - resiste às investidas dionisíacas que rejeitam o papel como morada. Mariel Reis