Entendido como um instrumento de bem-estar, auto-conhecimento e transformação, as actividades neo-shamânicas oferecem um "trabalho de ligação" onde o lugar do corpo, da emoção e da afectividade é preponderante. Integradas e adaptadas aos valores individualistas, às estruturas sociais e económicas da nossa sociedade, as práticas neo-shamânicas propõem um discurso paradoxal de apologia invertida da modernidade e dos estilos de vida urbanos: emerge uma representação sagrada da natureza, associada a um poder curativo, em oposição à exploração tecnocientífica do mundo actual, entendida como inibidora do potencial do ser humano. O indivíduo é então visto na sua unidade e natureza divina. Trata-se portanto de despertar todos os recursos da pessoa, de "encontrar a sua verdadeira natureza, a sua essência" fora de qualquer condicionamento sócio-cultural. As práticas neo-shamânicas propõem ao indivíduo tornar-se um actor da sua própria saúde, de recuperar a autonomia em relação ao sistema biomédico, através da promoção de um modelo de saúde centrado principalmente na estimulação das capacidades de auto-cura.