Esta investigação centra-se no conflito entre o conceito platónico ou o ideal puro da independência dos bancos centrais em relação aos governos e a sua aplicação prática na vida real. Platão ensinou-nos que um ideal puro é perfeito porque é abstrato, divorciado do mundo exterior. Um ideal puro não pode ser perfeitamente aplicado a um cenário político complexo, determinado por actores sociais. Ao contrário de um ideal puro, abstrato e perfeito, a realidade é, de facto, caracterizada pela heterogeneidade e influenciada por numerosos factores incontroláveis. Os acontecimentos específicos que este artigo examina dizem respeito à influência que o BCE exerceu no cenário político italiano entre agosto e novembro de 2011 em duas ocasiões específicas, acontecimentos que culminaram na demissão forçada do Primeiro-Ministro Silvio Berlusconi. O conflito que a nossa investigação tenta elucidar diz respeito à incoerência entre o conceito de independência política do BCE e a influência que o BCE exerceu no cenário político italiano em 2011. As teorias de Hobbes, Maquiavel e Platão, classificadas como obras clássicas ocidentais sobre o Estado, serão utilizadas para moldar as respostas obtidas, que serão relatadas e expostas numa estrutura narrativa.