Este livro parte da análise de uma única situação, porém exemplar: um homem morre de morte injusta e violenta; mulheres se juntam para chorá-lo; logo mais é um povo em lágrimas que se reúne a elas. Ora, essa situação que se vê por toda parte foi esplendidamente retratada por Serguei Eisenstein em seu célebre filme O encouraçado Potemkin. Mas como foi que Roland Barthes, uma das vozes mais influentes no domínio do discurso contemporâneo sobre as imagens, pôde considerar tal construção do pathos vulgar e lamentável? A melhor resposta à crítica barthesiana será fornecida pelo próprio Eisenstein na estrutura de sua sequência de imagens, assim como no discurso - imenso, abundante, genial, tão importante quanto o dos maiores pensadores de seu tempo - que ele sustenta sobre a questão das imagens patéticas. Descobre-se uma emoção que sabe dizer nós, e não só eu, um pathos que não é apenas passivo, mas se constitui em práxis: quando as velhas carpideiras de Odessa, em volta do marinheiro morto, passam da lamentação à cólera, prestam queixa e exigem justiça, fazem nascer esse povo em armas da revolução que vem.
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