Sete semanas antes da Páscoa a cidade se enfeita. Foliões e mascarados abandonam a censura da vida diária para se divertir em uma época historicamente dada aos exageros. O carnaval, festa que ganhou seus contornos na Paris do século XIII, chegou ao Brasil nas caravelas portuguesas. Por meio delas também vieram costumes e crenças, replicadas pela "nova terra". Somos um Brasil neo-lusitano ou uma mistura sem fim de várias culturas? As reflexões aqui apresentadas orbitam em torno de uma criação genuinamente nacional: o samba-enredo. Parte do cancioneiro carnavalesco, teve sua origem nas rodas de samba da casa de Tia Ciata, na Praça XI, e embala desde o começo do século XX os desfiles das Escolas de Samba do Rio de Janeiro. O carnaval, que outrora brindou ao poder, servindo como ferramenta de propaganda ufanista, transformou-se em voz dissidente, criticando a situação econômica e social do país. Seja como propaganda nacional ou crítica da vida diária, o samba-enredo ajudou a criar uma sociedade na qual pierrôs, arlequins e colombinas pudessem se sentir, enfim, brasileiros.