Desde o século XIX, a antropologia tem sido a disciplina autorizada para produzir conhecimento sobre os grupos humanos culturalmente estranhos ante os olhos do Ocidente, também chamados povos exóticos. Através da etnografia, esta disciplina tem produzido, além de informações científicas sobre cada etnia, imagens sobre o Outro e formas de entender a alteridade vinculadas com relações de poder e dominação, que partem da Europa como centro do mundo. Este livro analisa as visões de mundo e as experiências da alteridade em etnografias de Claude Lévi-Strauss (1908-2009) e Herbert Baldus (1899-1970) sobre os indígenas do Brasil, focalizando as formas como o índio e o etnógrafo são construídos nesses textos, o projeto etnográfico no qual se inscrevem e o modo como um ¿eu europeu¿ e um ¿outro nativö são definidos. Embora ambas as cosmovisões compartilhem formas de representar o nativo americano a partir da dialética ¿homem selvagem¿bom selvagem¿, elas correspondem a duas modalidades distintas de eurocentrismo.