A canção, um veículo de idéias, instaura uma ambiência em que se expõem teses ao assentimento. Destaca-se, assim, a trilogia retórica e, articulados a ela, aspectos musicais como elementos persuasivos. Devido ao seu componente melódico e musical, a canção constitui a memória coletiva da sociedade e nela se constitui, considerando sobretudo a estabilidade do texto cancional em seu plano de expressão na memória dos indivíduos. Esse e outros fatores, aqui destacados, dão relevância à canção na construção dos nossos modos de pensar, de estar e de ser. Neste livro, analisamos 13 canções buarquianas compostas entre 1964 e 1985, espaço-tempo delineados por tensões e controvérsias. Percebemos, nos textos cancionais analisados, um instrumento de persuasão com temática comum: "opressão x liberdade" e a mobilização de paixões a partir do estado de coisas apresentado. Evidenciamos, desse modo, um orador (Ethos), as paixões mobilizadas no auditório (Pathos), o discurso ao tratar aquilo que secoloca em questão (Logos), e os elementos musicais como parte da cena enunciativo-persuasiva (Melos). Dessa forma, destacamos provas de persuasão presentes na canção e nela possibilidades discursivização.