O presente livro evidencia os aspectos socioculturais a partir das representações sociais dos surtos epidêmicos de raiva humana ocorridos nos municípios paraenses de Portel, Viseu e Augusto Corrêa, durante o biênio 2004 e 2005, período em que a incidência teve um significante aumento da enfermidade, sendo o morcego o vetor dessa antropozoonose. Ao pesquisar as concepções causais da raiva humana, uma doença quase cem porcento letal, encontrei as formas de adoecer e morrer deste mal compreendidas pelos grupos sociais afligidos. Apresento os itinerários terapêuticos realizado pelos familiares junto às vítimas, os quais procuram os sistemas biomédicos e tradicionais sem ordem de prioridade em busca da cura, que é imperativa em relação às explicações etiológicas ou nosológicas. Quanto à relação da causa com a não-adesão à terapia, encontrei as atribuições, segundo a morfologia do vetor morcego, e o significado do termo raiva, descontextualizados da epidemia em questão. Os conhecimentos sobre as concepções de saúde/doença/morte, as conexões causais e a relação com a não-adesão ao tratamento profilático anti-rábico oferecem subsídios para adequar paradigmas sanitários.