Vinte anos são passados; ¿ e hoje releio essas paginas amarelecidas das FARPAS. Que encontro nelas? Um riso tumultuoso, lançado estridentemente através de uma sociedade como seu comentário único e crítica suprema. Encontro um riso desabalado ¿ mas escassamente uma verdade adquirida, uma conclusão de experiência e de saber, algum resultado visível dessa inspiração de Minerva que eu supunha combatendo por trás de mim, invisível e armada de ouro, como nos campos de Plateia. Nada que, para governar entre os homens o pensamento ou a conduta, merecesse ficar arquivado em tornos duráveis; ¿ unicamente um riso imenso, troando, como as tubas de Josué, em torno a cidadelas que decerto não perderam uma só pedra, porque as vejo ainda, direitas, mais altas, da cor torpe do lodo, estirando por cima de nós a sua sombra teimosa. Ora vale a pena recolher, perpetuar este riso, esparso outrora em panfletos leves? Há porventura utilidade em codificar assim a gargalhada? Aos milhares de livros que atravancam o Mundo, convém juntar um livro mais de onde nada sai, quando aberto, senão o rumor fugidio e remoto de risadas de há vinte anos, tão mortas como as rosas de então? Penso que não. E, por determinação minha, eu deixaria estas FARPAS nos breves folhetos amarelos onde o Diabo ri por trás de um óculo, já tão raros, e cada vez mais sumidos nessa corrente vaga chamada «dos Tempos», que providencialmente vai acarretando tudo o que se tornou inútil, folhas de lírio e folhas de louro, os homens, as suas ilusões imensas, e os seus pequeninos livros.
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