O instante criador caracteriza-se pelo fulgor inaugural, gerador de uma criação cósmica que liga todos os seres, integrando o poeta numa unidade essencial. O artista lembra que Não é a palavra, mas a alegria da palavra o que lhe concede alcançar o impreterível inefável, o que transfigura e refaz a linguagem e a realidade refeita por ela. Em outros termos, não é o significante nem o significado que lhe revelam o "algo oculto" buscado pelo poeta, mas uma satisfação advinda do encontro entre a palavra, o desejo e o mundo. Ler a poesia de Lêdo Ivo, especialmente a elaborada nos anos de 1940, é estar diante de uma lúcida consciência do papel de ser poeta, este que dá sentido e forma à realidade, tecendo os (e sendo tecido pelos) signos da volúpia, que partem da terra, alcançam o céu e voltam ao mundo dos homens para servir a estes como forma de convite à (re)criação, à re-humanização, através da poesia.