Apoiado na teoria do sistema literário brasileiro, que produz um acervo que dialoga entre si, esse livro possibilita ao leitor uma reflexão que vai além do encontro que "Vidas Secas" tem com "A Hora da Estrela" em suas superfícies de enredo, já que a obra de Lispector começa, exatamente, onde a de Graciliano termina. O que nos interessa aqui é o conteúdo crítico-social que está no subterrâneo das obras, em seus alinhaves, nos recursos artísticos utilizados laboriosamente pelos escritores. O que une esses livros não é apenas a comovente narração dessas personagens massacradas pelo capitalismo, mas uma segunda história, que conta, na forma dos textos, as contradições, impossibilidades e aflições de intelectuais, que em seus dramas, tentam falar desse outro de classe, de difícil acesso. Há, ainda, a possibilidade de uma terceira história, que surge quando as obras falam acerca da própria literatura, do fazer literário, ao se autoquestionarem, forçando as estruturas dos textos e dando relevo às questões sociais do Brasil, que não se resolvem nem no mundo, dito real, nem na literatura, não permitindo o apagamento do drama, mas mantendo-o latente.