Este livro é fruto de uma pesquisa, inspirada nos pressupostos da Análise de Discurso Crítica (ADC), que analisou: as representações dos atores sociais do estupro e do abortamento no Brasil; as relações estabelecidas entre o movimento pró-vida e o familismo cristão; e os modos pelos quais a ideologia - em sua perspectiva crítica, não neutra - opera nos textos analisados. O corpus compõe-se de textos produzidos no Poder Legislativo brasileiro, em razão do fato de que textos com pretensões legais ilustram com transparência a natureza socialmente constituída e constitutiva do discurso, considerando-se seu aspecto representativo e seu potencial normativo. A análise orientou-se pela identificação da perspectiva pró-vida como forma de reduzir a mulher ao espaço doméstico, à maternidade e à manutenção do bem-estar familiar, característica da ideologia familista (VILLAVERDE, 2011). Por meio da ADC, esta obra denuncia o movimento pró-vida, por isentar-se da responsabilidade de garantir a preservação da saúde pré-natal em coerência com os direitos da mulher, criminalizando não só a militância feminista, como as próprias mulheres.