O que esperar de um governo negacionista e autoritário durante a maior crise ambiental e sanitária do século XXI? Crises são oportunidades para que lideranças políticas fortemente contestadas consigam unificar uma nação na direção da melhor solução e consolidem sua posição. Mas não foi isso que fez o presidente Bolsonaro. No livro 2020: o Brasil na idade das trevas, eu conto a história de um país cujo presidente aproveitou a pandemia da covid-19 para impor suas ideias anticiência e dar um golpe político. Enquanto os líderes mundiais adotavam protocolos de biossegurança orientados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o presidente brasileiro, embasado em atitudes obscurantistas, agia na direção contrária dos esforços internacionais. Por conseguinte, o governo adotou o isolamento vertical, determinou a reabertura do comércio, o funcionamento de todas as indústrias, liberou as atividades turísticas e mandou abrir as escolas. Enquanto isso, o Ministério da Saúde implementava o tratamento precoce e distribuía o kit covid para a população. Como consequência disso, os casos de contaminação e mortes pela covid-19 cresceram vertiginosamente. Apesar de o negacionismo oficial enfrentar grandes mobilizações dos movimentos sociais organizados, a principal resistência institucional aos absurdos patrocinados pelo presidente da República vinha do STF. Exatamente por isso o Supremo tornou-se o alvo predileto das hordas bolsonaristas e, em determinado momento, o governo decidiu agir para aniquilar o STF e impor as suas vontades. Posteriormente, sentindo-se poderoso, o presidente também passou a atuar no plano internacional, patrocinando golpes de Estado onde jamais se imaginou. Para fazer frente às resistências internas, o governo não hesitou em implantar uma repressão duríssima, responsável por dezenas de mortos e milhares de presos políticos, ao passo que fazia de Lula, Haddad e Boulos os principais alvos entre os políticos da oposição. Não demorou muito e começaram a surgir denúncias de que o governo boicotava algumas marcas de vacinas, enquanto pedia propina para comprar de outros laboratórios. Ao final, cansado de morrer de fome, de covid-19 e da repressão oficial, o povo se levantou para virar mais uma página da história na qual, talvez, Bolsonaro já faça parte do passado.
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