Quando se discute o tema da "violência escolar", nosso imaginário tende a associá-la à criminalidade e à agressividade que afloram nos variados quadrantes do ambiente educacional, envolvendo especialmente alunos, vitimando professores e funcionários, ou ainda ligada a outros fenômenos comportamentais. Trata-se de uma violência explícita e de fácil visualização, muitas vezes, em imagem e som, reflexo, em grande parte, de uma conflitualidade que eclode distante das fronteiras da escola, pontificada na forma de agressões, ofensas, ameaças, pichações, vandalismo, bullying, cyberbullying, badernas, depredações, etc. Contudo, o fenômeno da violência escolar não se limita somente a tal percepção formal e tradicional do fenômeno. Existe outra categoria de violência, que se insere na problemática: a violência do próprio direito e dos mecanismos formais de controle, notadamente a disciplina escolar e sua ideia de mérito ou excelência. Uma modalidade de violência sutil, invisível, que, na maioria das vezes, é negada, escondida ou distorcida, perpetrada com o consentimento tácito ou com a ignorância das suas vítimas. Uma modalidade de violência, pois, que não se mostra como as outras, posto que não incide sobre o corpo ou o patrimônio, mas sim sobre a consciência e as relações intersubjetivas, afetando "silenciosamente" a todos os envolvidos no processo pedagógico, reforçando as relações de poder e as diferenças negativas reinantes na sociedade. Trata-se da violência originária das próprias instituições de ensino, aquela que é por elas produzida no cumprimento da sua função de socialização das novas gerações, a partir das práticas de disciplinarização, vigilância e controle, a denominada "violência institucional" ou, simplesmente, a "violência da escola". "A Face Invisível da Violência Escolar" é uma obra que se propõe a compreender o fenômeno da violência institucional no âmbito da organização escolar, identificando suas formas de manifestação e de articulação com o sistema de ensino, analisando suas potenciais causas e consequências, aspirando que este trabalho conjunto, ao trazer o tema para o debate, possa desafiar os leitores, de modo especial, os agentes educativos, a refletirem sobre a dinâmica e o funcionamento das suas instituições, contribuindo para a construção de uma cultura tolerante e inclusiva no ambiente escolar, e consequente superação de uma herança punitiva e excludente que ainda ali se faz presente, e que pouco contribui para a formação da cidadania participativa.
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