Júlia Lopes de Almeida é uma das provas mais eloquentes do grau de distorção e injustiça que o machismo pode provocar na memória literária de um povo. Romancista de grande talento, além de jornalista, era tão consagrada em seu tempo que a davam como presença obrigatória entre os fundadores da Academia Brasileira de Letras, em 1897. Que nada: acabou barrada e viu, numa curiosa manobra compensatória, chamarem seu marido, literato de pouca expressão. A primeira mulher só entraria na ABL oitenta anos depois, período em que a obra de Júlia caiu num esquecimento que nenhum critério artístico justificava. Para comprovar o crime basta ler este A falência, romance realista magistral que, lançado em 1901, situa nos círculos burgueses cariocas dos primórdios da República o pungente drama de uma família rica que vê sua sorte virar.
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