A obra A Fortuna de Pilos: releituras do Livro IV de Tucídides oferece ao leitor o debate contemplado nas últimas décadas sobre algumas das apreensões acerca da História da Guerra do Peloponeso. Entre as releituras cientificistas e poéticas, a obra eterniza-se na declaração do próprio Tucídides, em seu prólogo: uma aquisição para sempre (¿t?µ? te ?¿ a?e?), epíteto de tesouro, porque se valessem os homens de sua narrativa. Poderia, portanto, o episódio da ocupação de Pilos, narrado no livro IV da História, constituir-se em uma trágica peripécia ateniense? Asserção provocativa, que supõe sobre as categorias míticas, presentes na referida passagem, o entendimento da obra tucidideana por ditames artísticos, assim denominados, por Francis M. Cornford, mithistóricos. Interpretado, pelo autor, como fruto de uma teoria trágica da natureza humana - supostamente apropriada de Ésquilo -, o encadeamento de Týche, Áte, Apáte, Elpís e Hýbris figuraria o início da ruína política de Atenas, em que Tucídides, propondo-se a descrever objetivamente os eventos da guerra, acaba por se aproximar do drama. Mas, como admiti-lo se, em seu prólogo, Tucídides declara a exclusão do fabuloso (t? µ¿¿?de¿) de sua escrita? Em que sentido mythôdes pode ser apreendido como o m?thos, propriamente dito? Na memorização das ações humanas, a história tucidideana se volta, então, para a fragilidade dessa humanidade, revelando a face de sua própria tragicidade.
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