A MAÇONARIA E OS JESUÍTAS: Livro de Dom Vital, Bispo de Olinda, sobre o alerta da ameaça maçônica na Igreja Católica e na sociedade brasileira e mundial. Esse documento, escrito na época da Questão Religiosa, foi a resposta do Bispo de Olinda contra a influência da maçonaria no catolicismo e nos governos; fator este que estimulou grande polêmica e atrito entre o clero e o governo monárquico. Dom Vital soube da expulsão dos jesuítas de sua província durante a sua prisão no Rio de Janeiro. Mas nem a prisão foi capaz de parar o frade capuchinho e este pôs-se a escrever. Neste livro, Dom Vital contrapõe os dois maiores inimigos desde o século XVII. De um lado, os partidários do liberalismo e do ódio à Igreja e ao Trono: a Maçonaria. Síntese de todos os males e heresias e "mais temível que os bárbaros e sarracenos com as suas constantes ameaças, e que os protestantes com as suas inovações" (p. 6). De outro, a distinta Companhia de Jesus tão "estimada e louvada por São Carlos Borromeu, São Felipe Neri, São Francisco de Sales, São Vicente de Paula, Santo Afonso, Santa Teresa de Jesus e outros santos" (p. 8) ----------------------------------------------------------------------------------- O BISPO DE OLINDA E OS SEUS ACUSADORES: Muito se tem falado e muito se tem escrito em quase todos os pontos do Império contra os atos que o humilde Bispo de Olinda, em desempenho de seu sagrado Ministério Episcopal e em cumprimento dos deveres de sua missão augusta e divina, tem sido forçado a praticar de um ano a esta parte. A essa aluvião de escritos e a essa infinidade de acusações, cada qual a mais infundada e destituída de verdade, não tem ele deixado de responder com o mais profundo silêncio, recordando-se do sublime exemplo que nos dera o divino Mestre, guardando profundo e absoluto silêncio em face dos clamores e acusações do povo judeu que tão porfiadamente procurava perde-lo; e não respondendo senão quando interpelado pelo Sumo Sacerdote e pelos depositários da autoridade civil. Jesus autem tacebat (Mateus, cap. 26, vs. 63). O silêncio, e silêncio perpétuo, continuaria a ser, por certo, a norma fiel do meu proceder, se ora não pesassem sobre minha humilde pessoa graves acusações formuladas, não só por anônimos ou pessoas que não merecem a honra de uma resposta, mas também pelo próprio Governo Imperial e por um alto Magistrado, Promotor da Justiça. Calar aos primeiros cumpria para não dar importância nem mesmo atenção a imputações e falsidades que por si mesmas se destroem; mas, contestar os segundos é obrigação imperiosa que me impõem não só a dignidade episcopal menosprezada, senão também o respeito e o acatamento que em justiça devo ao Exm. Sr. Ministro do Império e ao Sr. Procurador da Coroa, Soberania e Fazenda Nacional. Então, cumpria-me calar; hoje, urge-me falar: Tempus tacendi, et tempus loquendi (Eccles. 3, 7). Defender a causa própria sempre foi tarefa por demais delicada e espinhosa, e coisa sobremaneira penosa e ingrata, principalmente, quando semelhante defesa se não pôde promover sem, ao mesmo tempo, formular acusação direta ou indireta contra outrem. Tudo isto sobe de ponto, desde que a acusação vai atingir, se bem que a pesar nosso, a pessoa, ou pessoas a quem tributamos as mais sinceras homenagens de estima, veneração e inteira dedicação. São estas, infelizmente, as difíceis circunstâncias em que atualmente me colocara um sagrado dever de consciência. Nunca passou-me pela mente sequer a ideia da possibilidade de que, um dia, ver-me-ia na dura necessidade de defender-me, acusando o Governo de meu país, ao qual sempre ufanei-me de consagrar profundo acatamento e a mais completa dedicação. E, se não fora tratar-se de interesses infinitamente superiores aos de um humilde religioso, sem dúvida que jamais ter-me-ia eu animado a romper o silêncio que me havia prescrito, como regra invariável do meu procedimento.
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