Partindo de cinco iniciativas de memória sobre Belo Horizonte (MG), consideradas memórias menores de caráter coletivo, o livro A memória coletiva em perspectiva: ensaios sobre a memória como gesto a partir de narrativas de uma cidade-trapeira desenvolve uma perspectiva analítica que permite compreender a memória como gesto, buscando complexificar o entendimento de memória coletiva proposto por Maurice Halbwachs (1990), a partir da experiência da capital mineira com suas memórias. Para tanto, toma tais iniciativas como fios e retalhos de uma trama com as quais a cidade-trapeira lida, imagem atribuída à cidade que caracteriza também a abordagem metodológica da autora, a qual se relaciona com um modo de lidar com as memórias a partir de seus fragmentos e vestígios. Essas iniciativas parecem pretender dar conta de um comum, mas incorporam e dão a ver a multiplicidade temporal que as constitui, haja vista que emergem de um cotidiano heterogêneo, que se vincula a tempos e espaços conflitantes e coexistentes. Trata-se, conforme a autora, de memórias abigarradas, nos termos da socióloga boliviana de origem aymara Silvia Rivera Cusicanqui, nas quais temporalidades e espacialidades são rearranjadas em um contínuo movimento que mostra as instabilidades e disputas sobre a memória e a própria cidade. Assim, olhando para tais narrativas, a autora propõe o entendimento da memória como gesto, um ato ético, estético e político vinculado a um esforço produtivo sobre a cidade, que incorpora liberdade. Um campo não pacificado, no qual se encontram contradições, silenciamentos e invisibilidades refletidas nas diferentes narrativas sobre ela, conformando distintas identidades narrativas.
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