Não é por acaso que este livro começa falando de desaparecimentos. Primeiro de palavras, logo de pessoas. Num mundo em que a dificuldade de lidar com a diferença é a norma, em que algumas formas de afirmação da identidade impedem enxergar o humano quando ele está do outro lado da fronteira (real ou imaginária) que nos cerca, é preciso olhar de todos os ângulos que nos sejam possíveis para dar conta de uma realidade que parece definitivamente decidida a se esconder de nós e fugir da nossa compreensão. Os textos de A noite belga partem dos temas mais variados, trazem cenas de livros ou de filmes, da vida coletiva e dos indivíduos, revisitam as sombras lançadas pela guerra - o ponto sem retorno em que a humanidade é capaz de chegar ao genocídio, ao desejo de exterminar o outro - e analisam alguns dos mecanismos que regem a política contemporânea e a vida de uma sociedade que, num só tempo, submerge no espetacular mundo do consumo (as supostas maravilhas do mundo próspero) e em obscuras zonas de miséria e violência. Bem distante do tom acadêmico, são como os textos de um cronista, alguém que o tempo todo conversa com o leitor, e esta é uma das suas principais marcas: uma grande (e às vezes provocadora) multiplicidade de assuntos, investigações, costuras de ideias e de acontecimentos. Mesmo quando trata dos temas mais áridos, sua escrita fluente, ora aguda e até irritada, ora melancólica (ou desesperada), sabe despertar nosso interesse na exata medida em que está sempre amparada em dados e números de uma ampla pesquisa e na constante apresentação de fatos históricos. Ao mesmo tempo em que nos faz pensar, A noite belga é um livro que se lê quase como uma obra literária, daquelas que trazem uma nova surpresa a cada página.
Dieser Download kann aus rechtlichen Gründen nur mit Rechnungsadresse in A, B, BG, CY, CZ, D, DK, EW, E, FIN, F, GR, H, IRL, I, LT, L, LR, M, NL, PL, P, R, S, SLO, SK ausgeliefert werden.