Partindo da noção de que as representações coletivas são produto da atividade social, no presente estudo foquei minha análise nos textos poéticos da MPB. Não me prendi às melodias, apesar de saber que sons combinados refletem ideias sociais. Pude perceber que a música colabora para a concretização de uma certa tendência à ilusão no indivíduo. Cantada, possui uma trama emocional que funciona quase como catarse e envolve uma linguagem que exprime valores, normas, visões de mundo específicos, estabelecendo entre produtores e consumidores um intercâmbio contínuo. O samba nasceu no morro, foi sendo incorporado pela classe média por volta dos anos 30/40 até os anos 70, quando realizei a pesquisa. O texto poético da música conta uma história, os temas cantavam o amor e o abandono, com a censura radical pós 68, a ênfase se volta para a realidade política numa tentativa de dizer o proibido e denunciar. Decorridos mais de 40 anos, novas abordagens apontam para a desigualdade e injustiça social (Emicida: "permita que eu fale, não as minhas cicatrizes"). A percepção que extraí é que há muitas vezes uma crítica ao sistema social vigente, mas a procura de uma nova ordem não é apontada. A força da estrutura vigente parece suplantar qualquer vislumbre de mudança. As lacunas que os textos oferecem poderiam nos levar a ver uma certa incoerência no discurso, mas acredito que é justamente por causa das lacunas que o discurso ideológico é um discurso coerente.
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