Partindo do estudo de sete Bartoons - criação do cartunista português Luís Afonso, publicada na seção Espaço Público do jornal português Público - escolhidos, aleatoriamente, entre os dias 6 e 24 de setembro de 1999, este trabalho investiga, analisando a voz que emerge na enunciação do discurso, como o Bartoon contribuiu para despertar a reflexão do leitor português acerca da independência de Timor-Leste frente ao domínio indonésio, ao confrontar o discurso empregado pela Comunidade Internacional e o discurso do leste-timorense. Para tanto, fez-se uma retrospectiva histórica e uma breve contextualização da situação vivenciada recentemente naquele país, uma vez que o Bartoon recria, interdiscursivamente, o momento sociopolítico que antecede a chegada das Forças de Paz da ONU e a conquista da independência. Tratou-se, ainda, dos elementos constituintes do gênero história em quadrinhos, necessários ao estudo do texto sincrético, e de apresentar aspectos gerais da construção do ethos inscrito no quadro da Análise do Discurso, desenvolvido a partir dos estudos de Maingueneau. A análise procurou revelar a voz mostrada nas astúcias da construção do Bartoon, uma voz satírica que recria no visual a denúncia discursiva. Além disso, manifesta-se solidária ao sofrimento do leste-timorense e desqualifica seus opressores, deseja persuadir o leitor a indignar-se, a comover-se, a refletir sobre o tema, recorrendo à ironia como elemento provocador desse ato perlocutório.
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