Estranho entre estranhos, J. Rodolfo Wilcock é outro caso sui generis da literatura argentina, talvez o de diagnóstico mais agudo. Contemporâneo de Borges, Bioy Casares e Silvina Ocampo, de quem foi amigo, transferiu-se para a Itália e se reinventou como autor italiano, adotando a língua do exílio. Nisso, assemelha-se a Copi (também publicado nesta coleção), que escreveu em francês. Composto originalmente em italiano em 1972, A sinagoga dos iconoclastas é um livro de classificação tão difícil quanto seu autor. Marcado pela imaginação desmedida e o humor letal, pertence à tradição inaugurada pelas Vidas imaginárias (1896) de Marcel Schwob, volume que encontrou sucessores no próprio Borges e mais recentemente em Roberto Bolaño e Enrique Vila-Matas. Como afirmou o primeiro, "em todas as partes do mundo há devotos de Schwob que constituem pequenas sociedades secretas". Enciclopédia singular de perfis de trinta e seis personagens que trafegam pela linha tênue entre genialidade e loucura, da estirpe de inventores, utopistas e sábios, A sinagoga dos iconoclastas retrata tipos como o filipino José Valdés y Prom, célebre pelas extraordinárias faculdades telepáticas e por causar uma crise de cantoria desenfreada em parapsicólogos reunidos em um congresso de ciências ocultas. Ou o inventor Socrates Scholfield, que patenteou em 1914 um aparelho capaz de comprovar a existência de Deus. Aaron Rosenblum não fica atrás em excentricidade, ao defender a abolição de toda novidade surgida no mundo desde 1580. Paródia debochada do mundo das teorias solenes das academias e ciências, esta obra-prima de J. Rodolfo Wilcock é ainda mais assustadora pela plausibilidade de suas ficções.
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