O novo livro do autor de A poeira da glória. Depois de bagunçar a cânone cultural brasileiro em A poeira da glória (2015), Martim Vasques da Cunha dedica-se agora a um exercício que podíamos intitular, à Kubrick, "como deixei de me preocupar e passei a amar Bolsonaro". Esse hipotético título só não seria justo porque aqui não se trata exclusivamente do caso Bolsonaro, porque não há sequer amores sarcásticos e porque as preocupações continuam justificadíssimas. No entanto, é indiscutível que o sucesso de Trump, Farage e Bolsonaro hegemonizou o catastrofismo no debate público, e que esse fenômeno incomoda Marfim, que o atribui a uma impotência da imaginação liberal. Porque os intelectuais, que se mantêm tranquilos antevendo apenas ameaças que compreendam, veem-se por vezes destronados pelos povos, do mesmo modo que um lúcido estivador pode decidir substituir-se a um inábil timoneiro. A sublevação destes últimos anos teve como alvos filosóficos as ideias abstratas e a tirania dos especialistas, mas também pôs em causa o quietismo político, a ilusão tecnocrática e a "política da ceticismo". E assim ressuscitou uma "politica da fé", ainda que em versão caótica e plebeia. Torna-se então decisivo investigar e questionar as teses dos ideólogos "reacionários", sem que isso atenue as graves responsabilidades das elites de esquerda. Em ensaios curtos, densos e engenhosos, nos quais tão depressa se discute a estupidez em Musil como a vitimização em O.J. Simpson, A tirania dos especialistas lembra-nos que isto anda tudo ligado. Que há que manter a cabeça fria. E que nenhum tweet abolirá jamais a filosofia política. Texto de Pedro Mexia
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