Várias inquietações se fizeram no chão sagrado do trabalho em saúde mental. Elas margearam as observações entre a qualidade de ações produzidas no fazer profissional e as condições objetivas em que se davam. O espanto se deu pela beleza produzida na interface com os usuários dos serviços, mesmo diante do cenário coisado. Esse termo se refere aqui ao que não tem palavras, ao mesmo tempo em que abre espaço para que cada leitor coloque o que melhor lhe aprouver no conceito. Mesmo sabendo que não é de bom tom... insisto em usar. Bom tom? Para quem? Uma primeira análise evidencia o fosso existente entre o trabalho real e o trabalho prescrito, situação vivenciada pelo indivíduo que experimenta, ao mesmo tempo, a dor da exaustão e o prazer do face a face com o usuário. O cotidiano laboral da área de saúde mental exige do trabalhador uma capacidade de adaptação para além de suas possibilidades reais, tendo em vista tanto os desafios da reforma psiquiátrica quanto as flexibilizações do mundo do trabalho e dos novos arranjos societários, que constituem sua ambiência, da qual fazem parte os processos de precariedade dos vínculos laborais, que são explícitos, e a correlação de forças existentes na constituição do fazer profissional, que tem uma dimensão implícita. Todos esses fatores colaboram para a corrosão dos vínculos afetivos com o lugar de trabalho e com o próprio fazer. E por essa época nem cogitávamos os tempos de pandemia...
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