Se Púchkin foi o grande poeta da literatura russa moderna, Nikolai Gogol foi o seu grande prosador e «Almas Mortas» o seu grande livro. Este escritor ucraniano imaginou uma grande obra épica que não só retratasse a Rússia como lhe delineasse o futuro. Imaginou essa obra em três tempos, à maneira de «A Divina Comédia», por esta ordem: o inferno, o purgatório, o paraíso. Pelas vicissitudes da sua vida e do seu percurso espiritual, Gogol ficou-se pelo inferno, ou seja, pelo volume de «Almas Mortas», obra que conta a chegada do vigarista Tchichikov a uma cidade provinciana da Rússia esclavagista com o intuito de comprar aos senhores da terra locais, para fins inconfessáveis, almas mortas (servos da gleba já falecidos, mas que ainda constavam dos registos de recenseamento como vivos). Estilo mordaz mas subtil, uma veia satírica e uma escrita moderna ainda hoje inimitáveis — é assim «Almas Mortas».