Os impactos de uma perda se fazem sentir em múltiplas dimensões da vida dos enlutados e podem lançá-los em um estado de vulnerabilidade e crise. Neste trabalho, apresento um estudo e um ensaio para pensar os impactos que as perdas impõem, refletindo sobre o que o luto revela sobre a nossa constituição subjetiva. No estudo, eu apresento os resultados e as conclusões de uma pesquisa que buscou uma leitura clínica das experiências vividas por aqueles que perderam alguém em função do suicídio. Parto de uma visitação crítica às principais teorias sobre o luto, em diálogo com os estudos essenciais da psicologia do suicídio. Ele oferece a psicólogos, estudantes, pesquisadores e outros membros da rede de cuidados subsídios imprescindíveis para uma compreensão das peculiaridades e significados atribuídos a esse modo de perda, mapeando os recursos e estratégias de enfrentamento evocadas pelos sujeitos. Num segundo momento, apresento um ensaio, escrito cerca de 10 anos depois, durante o pico de mortes produzidas pela pandemia de COVID-19 no Brasil. Nele, parto de uma abordagem complementar às perspectivas que tomam o luto como uma experiência individual e circunscrita à vida privada dos sujeitos e seus grupos familiares. Ao refletir sobre a expressão pública do pesar e sua relação com a violência estrutural observada em países de formação colonial como o Brasil, o ensaio pretende desvelar uma dimensão do luto para além da aproximação tradicionalmente adotada pela clínica psicológica.
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